(Bloomberg) -- Líderes mundiais devem enviar uma mensagem de solidariedade e renovada determinação para enfrentar o aquecimento global dias antes do início oficial da cúpula climática COP30 no Brasil, apesar da fraca participação e do enfraquecimento de um objetivo fundamental para conter o aumento das temperaturas.
O cenário é desafiador para os mais de 50 chefes de Estado e ministros de governo esperados na cidade de Belém nesta quinta e sexta-feira. Já se foram a confiança e o senso de grande ambição que uniram quase 200 nações há uma década, com a adoção do histórico Acordo de Paris. Em seu lugar, resta uma sensação angustiante de urgência e a dura realidade de implementação de algumas das promessas climáticas, especialmente porque a meta mais ambiciosa do acordo — manter o aquecimento em 1,5°C acima dos níveis pré-industriais — está cada vez mais distante.
“É diferente de como era há 10 anos”, disse Manish Bapna, presidente do Conselho de Defesa dos Recursos Naturais, grupo de defesa ambiental com sede nos Estados Unidos. “Mas o mundo mudou nesses anos de maneiras profundamente importantes.”
A cúpula de líderes é apenas um prelúdio para as negociações oficiais que começam na segunda-feira. Ainda assim, as advertências dos chefes de Estado podem ajudar a moldar a conferência e impulsionar a ação.
Aproximadamente 190 países confirmaram planos para enviar representantes à COP30. Mas menos de 60 presidentes, primeiros-ministros e outras autoridades relevantes devem participar da cúpula de líderes. Os desafios logísticos para chegar a Belém — no estado do Pará, no norte do país, com pouca infraestrutura turística — e a dificuldade para encontrar hospedagem no local têm dissuadido alguns de fazer a viagem.
Entre as ausências mais notáveis, estão as dos líderes dos maiores emissores de gases de efeito estufa do mundo. O presidente da China, Xi Jinping, e o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, não participarão presencialmente, e o presidente americano Donald Trump, boicotará uma conferência destinada a tratar da crise climática, que ele classificou como uma “farsa”. Trump está retirando os EUA do Acordo de Paris, um processo que será finalizado em 27 de janeiro.
No entanto, mesmo uma breve aparição de dezenas de líderes envia uma mensagem clara de que a ação climática é fundamental para o crescimento econômico e a competitividade de seus países, afirmou Ani Dasgupta, CEO do Instituto de Recursos Mundiais. Isso também ressalta que, mesmo com o recuo dos EUA, a maioria dos países ainda considera a cooperação climática como um interesse próprio.
“É provável que os líderes reafirmem que a adoção de medidas climáticas ousadas pode impulsionar o crescimento econômico, e veremos avanços em questões como mercados de carbono e financiamento”, disse Dasgupta. Eles também “devem reafirmar a meta de 1,5°C e demonstrar apoio para reduzir a diferença nas emissões com ações concretas, não apenas retórica”.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sediará o encontro e participará de sessões dedicadas à preservação florestal, à transição energética e ao financiamento. Espera-se que Lula destaque o compromisso de quadruplicar a produção de combustíveis sustentáveis até 2035, uma iniciativa que poderá impulsionar o uso de combustíveis líquidos de origem vegetal para abastecer aviões, navios e automóveis. Isso representa uma potencial vantagem para o Brasil, potência na produção de etanol.
Uma iniciativa de proteção da floresta tropical que se tornou prioridade para Lula — e para a chamada “COP da floresta” — também deverá ser destacada, embora as expectativas de financiamento tenham ficado abaixo das metas iniciais.
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Líderes europeus, incluindo o presidente francês Emmanuel Macron e o chanceler alemão Friedrich Merz, devem discursar, logo após ministros da UE consolidarem um compromisso de reduzir as emissões de gases de efeito estufa em pelo menos 66,25% até 2035. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e Antonio Costa, presidente do Conselho Europeu, também estarão presentes na cúpula de líderes mundiais.
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